Os nomes vernáculos das espécies contribuem para divulgar a informação sobre a biodiversidade, nomeadamente a emanada dos meios científicos, junto de um público alargado. O mundo do exótico chega cada vez mais próximo de nós, através dos livros, da televisão, da Internet, das viagens e do comércio de animais de estimação. Assim acontece com as aves, que são provavelmente o grupo de seres vivos mais bem estudado. Todas as espécies de aves do mundo têm nomes comuns em muitas outras línguas, mas até há pouco tempo isso ainda não se verificava em português. Havia, isso sim, algumas listas nacionais dos países lusófonos, uma lista para a região do Paleártico Ocidental e poucas tentativas de compilação de forma coerente. Estas listas só abrangiam cerca de metade das espécies de aves. Além disso, a utilização dos nomes das aves nas publicações escritas e audiovisuais nem sempre segue o preconizado nessas listas.
Paulo Paixão, tradutor e ornitólogo, propôs uma viagem pelo mundo das palavras, publicando um estudo acompanhado por uma lista completa de nomes das espécies e famílias de aves, sob a forma de livro digital intitulado Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo. O método de elaboração deste projeto de nomenclatura incluiu o levantamento dos nomes comuns existentes na lusofonia, a sua comparação com outras línguas, a avaliação das características morfológicas, comportamentais e ecológicas de cada espécie, bem como a sua distribuição geográfica e história evolutiva. O autor estabeleceu critérios para a atribuição de descritores específicos e aplicou regras de ortografia. Na elaboração da lista de nomes, teve em consideração os nomes populares e os nomes mais eruditos que têm sido criados por investigadores e tradutores, decidindo criar novos nomes apenas para as espécies que ainda não o tinham.
O livro já mereceu a atenção de alguns dicionários — como o Priberam, a Infopédia da Porto Editora e o Avionary —, da imprensa (jornal Público) e da rádio (RDP Internacional), bem como uma reflexão concetual e análise crítica dos aspectos técnicos. O autor tem vindo a realizar uma verificação regular do próprio estudo, com o intuito de acompanhar a dinâmica de alterações taxonómicas adotadas pela comunidade ornitológica internacional (IOC), que publica duas versões atualizadas da lista mundial (nomes científicos e em inglês) por ano. O livro digital, os elementos que têm sido objeto de atualização e o material suplementar reunido num quadro Excel podem ser consultados e descarregados direta e gratuitamente a partir de Passarada, o blogue do autor.
Estando certos de que será um conteúdo bastante útil para os nossos leitores, a administração do AvesPT contactou o Paulo Paixão no sentido de se poder criar este conteúdo de apresentação e divulgação do livro, de forma a poder ser apresentado nesta secção informativa.
Segundo o autor, um dos desafios enfrentados foi avaliar a riqueza linguística do português neste domínio. Paulo Paixão procurou estabelecer uma convivência criteriosa e equilibrada entre as facetas de uma língua portuguesa rica e diversificada, optando por nomes usados em Portugal para as aves europeias e por nomes usados no Brasil para as aves dessas paragens, tentando resolver harmoniosamente os relativamente poucos casos de sobreposição. O autor considera natural que, em contextos nacionais, se utilizem amiúde zoonímias mais adaptadas à tradição linguística e normas de cada país. Defende, porém, que a padronização dos nomes dos seres vivos (e da ortonímia técnica, em particular) é fundamental para a existência de vocabulário português de referência que possa ser empregue no âmbito da comunicação internacional alargada numa língua pluricêntrica — o português —, uma das dez mais faladas em todo o mundo .
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